Oi, pessoal! Espero que estejam bem. Faz um bom tempo que não apareço por aqui! Mas decidi fazer o comeback falando de um cantor muito especial.
Hoje quero falar de um cantor, compositor, produtor e instrumentista vindo do Rio de Janeiro, que trás uma pegada indie rock para as raízes do MPB, usando influências da Bossa Nova e do Folk. Cícero Rosa Lins, mais conhecido como Cícero, é dono de cinco álbuns e é uma ótima indicação para quem curte Marcelo Camelo e Tim Bernardes. Nascido em 7 de abril de 1986, antes de lançar seus álbuns de maneira independente, ele ingressou numa banda de indie rock chamada Alice, que findou em 2008. Depois disso, formou-se em Direito.

Fonte: Pinterest
O primeiro álbum, Canções de Apartamento, foi lançado em 2011. Cícero produziu, cantou e tocou todos os instrumentos sozinho nesse CD, que foi gravado em casa e disponibilizado gratuitamente para download. Essa obra deu para ele dois Prêmios Multishow de Música Brasileira, nas categorias de Música compartilhada e Versão do Ano. O álbum tem um certo gosto de casa de vó, uma nostalgia pelos dias alegres que passaram e uma esperança por novos dias. Há quem diga que esse disco é o melhor. Existe um tom de brincadeira, papo de criança, de sorriso aberto e (talvez) peito ferido.
A primeira canção, Tempo de Pipa, com a presença do tamborim, arcodeon e piano (que também passam pelas outras canções) aponta para a delicadeza da infância, a necessidade de estar com o outro seja lá onde for e como for. É um lembrete para memórias saudosas.
Se a primeira música lembra a infância, a segunda, Vagalumes Cegos, remete a crianças que cresceram. Como se uma espécie de tédio as tomasse, e elas não soubessem a razão da correria. O tempo consome nossas almas, num ponto onde não sabemos das coisas e não enxergamos luz, então clamamos por alguém, com o desejo de pausar a correria da rotina e discutir coisas que animam a vida, a efemeridade do cotidiano simples. É um som agridoce, que mistura o desejo do futuro com a nostalgia de algo que passou e de algo (bom) que virá.
Ensaio sobre ela: carta de amor. É uma carta de amor que me lembra alguns trechos do livro Go, de Nick Farewell. Amor repentino, coisa que acontece devagarinho, como o arranjo e voz dessa canção, que vai embalando o ouvinte sem que ele perceba. Tem ares de uma certa preguiça pós almoço, moleza de cafuné. É o tipo de canção que você dança juntinho do ser amado, aquele pensamento repentino que vêm enquanto você admira o outro. O amor renova a alma, como diz Cícero: "Foi bom te ver, sair de novo" .
A música mais conhecida do álbum, Açúcar ou Adoçante, fala sobre separações. Gostaria de usar a palavra término, mas nem todas as coisas precisam ter conotação romântica. Um rompimento de amizade, uma distância familiar, um término... Seja qual for a espécie do rompimento, ele dói e bagunça. Existe uma certa pungência, um desejo de ter a pessoa que se amou ao lado, mesmo não sendo capaz de amá-la como antes, na mesma intensidade, mesmo não sendo capaz de tê-la como antes.
Para fechar o álbum, temos Ponto Cego. O vídeo clipe gravado no centro do Rio, onde pessoas passam sem prestar atenção nas coisas que estão ao redor. O bordão "É sexta-feira, amor", dito de um jeito irônico: a sexta não é a salvação de nossos problemas. Se ela é a válvula de escape, é sinal de que os outros dias são ruins. "Daqui pra lá não vai sobrar nada pra ser, mas quem se importa? É sexta-feira, amor"
O segundo álbum, Sábado, lançado em 2013 de forma independente, possui uma melodia arrastada, meio melancólica, tocada por uma guitarra, seguida por tamborim. Aqui, o sentimento de melancolia bate mais forte, uma sensação de perda presente mistura com uma certa desconexão. É um ir e vir sem razão. É um som sinuoso, de caminho fechado. Batidas mais fortes, de um sentimento escondido.
Se o álbum inicia de forma melancólica, ele termina com uma dúvida que cabe a todos nós: O que fazer com a angústia? O arranjo de violão parece pressupor algo que está por vir (a resolução da angústia?) O que fazer com ela, com a angústia que a falta, a solidão e a distância trazem? Uma ligação ou troca de mensagens não resolvem muita coisa. A primeira linha da melodia, com palmas, violão parece conter a resposta para a questão pertinente.
Sexta não trás milagres, sábados podem ser melancólicos demais, mas uma caminhada na praia aos domingos pode ser algo bom. O terceiro álbum, intitulado A Praia, de 2015, tem ares mais alegres, como os de alguém que acabou de voltar do passeio. A música, que leva o mesmo nome do álbum, resume bem esse novo trabalho do artista: descoberta, novos ares, novas melodias. Lembra um domingo amistoso. "As canções de amor inventam o amor". As novas canções do artista inventam o artista. Cada álbum do Cícero é diferente porque a introspecção e processo criativo de cada um teve um caminho diferente. E isso é uma das coisas mais incríveis nesse artista, a capacidade de se reinventar e fazer algo novo e que de alguma maneira se ligue aos trabalhos anteriores.
O quarto álbum, Cícero & Albatroz, de 2017, foi composto junto com os companheiros de banda de Cícero. É um álbum com uma expansão instrumental positiva, que eu carinhosamente chamo de álbum de cidade. Esse inicio lembra um pouco das canções do Quinteto Armorial.
Esse álbum narra o cotidiano de quem está rodeado por prédios e carros, A Grande Onda mostra bem isso. Mas o que será essa grande onda que irá submergir os carros, os prédios e os ansiolíticos? Possivelmente, estaremos tão distraídos com o cotidiano que nem veremos ela chegar.
Por fim, temos o álbum mais recente, Cosmo, de 2020. Gravado enquanto o artista transitava entre o Brasil e Portugal. A moldura da capa talvez transmita o que o álbum tenha pra passar: a imensidão de sentimentos, da vida. A Chuva, mostra alguém que vive no passado: é necessário sentir a dor, para enxergar o erro e assumi-lo. Nada volta atrás, mas dor não mata, deixa marcas, sim.
A melodia que quase parece um loop, ajuda a pensar sobre o passado que não volta e o tempo que caminha sempre rumo ao futuro. Parece um lamento, daqueles que aparecem no fim do dia, para desenterrar os mortos e "deixar a dor caducar".

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham curtido o post. Essa é a segunda vez (acho, se não me falha a memória) que trago um artista indie brasileiro pro blog. Acho importante apoiar a cena local e descobrir novas melodias. Fiquem na paz e até mais!
Comments