Oi pessoal, espero que vocês estejam bem! O post de hoje é sobre uma artista muito especial para minha vida. Espero que vocês gostem bastante. Esse não é o estilo de recomendação que eu usualmente faço, mas inovação faz parte da vida! Ocasionalmente, é muito bom sair (por alguns momentos) da rota usual.
Dedico essa recomendação para meu pai, sem ele, meu gosto por esse tipo de música seria tardio, ou talvez nulo. Nunca saberemos.
Quando eu era menor, era uma criança um tanto quieta e qualquer coisa satisfazia meus gostos. Simples, não? Meu pai sempre gostou de assistir TV, então eu me sentava com ele e assistia sempre que podia. Durante os finais de semana à noite, nós víamos um programa de auditório num canal comum. A plateia era cheia de pessoas mais velhas, mas por alguma razão, eu gostava daquilo. Os instrumentos, a letra das canções e a simplicidade daquilo tudo me encantava. A apresentadora era um foco especial: a voz memorável, a frase de efeito para começar o programa… Tudo nela era incrível! Provavelmente, você já tenha assistido e até já saiba de quem estou falando. Sim, o post de hoje será em homenagem a Inezita Barroso!

Um povo que não conhece a raiz de sua cultura, é um povo fraco. A música caipira (e outros tipos de músicas tradicionais, como maracatus, toadas e outros) fazem parte da história de nosso povo, a caipira em especial, faz parte do interior de São Paulo. A música caipira começou a ser gravada nos anos 20, com a chegada do rádio e foi graças a isso e a outros meios de comunicação que a memória do caipira é viva até hoje. As músicas cantam sobre o cotidiano dos habitantes do interior. O cantador pode aparecer sozinho ou em dupla, em ambos os casos, apenas com a voz e a viola. O que marcou muito esse estilo foi o surgimento de duplas, que cantavam em terças super afinadas, onde era difícil distinguir uma voz da outra. Um exemplo disso são: Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, etc. Quando a canção começa a apresentar instrumentos como bateria, guitarra ou piano, ela deixa de ser caipira, passando a se encaixar no sertanejo. Outra diferença é que o caipira fala de sua experiência rural, e a música sertaneja tem como foco a cidade.
Ignez Magdalena Aranha de Lima, de nome artístico Inezita Barroso, nasceu em 04/03/1925, em São Paulo e faleceu em 08/03/2015, por conta de uma insuficiência respiratória. Faleceu quatro dias depois de completar 90 anos. Ela era cantora, atriz, instrumentista, bibliotecária, folclorista, professora e apresentadora de TV/Rádio.
Sua extensão é um incrível contralto, grave e potente, que alcança desde pontos de candomblé até árias. O repertório é bastante longo, caminhando pelos álbuns da artista podemos ver maracatu, cocos, lundus, valsinhas, toadas, pagodes caipiras e modas. Como uma pesquisadora de respeito, ela tinha consciência de seu papel, e não se considerava uma cantora folclórica, pois ela sabia que esse título cabia aos cantores anônimos nos quais ela se inspirava. Inezita defendia uma música caipira tradicional, privilegiando o gênero mesmo quando as gravadoras rejeitavam o estilo. Ela descarta a música sertaneja estilizada aos moldes do country norte-americano.

A música mais conhecida dela é “Marvada Pinga”, dos anos 50, que marcou gerações e foi um marco na carreira da artista, já que em todas as suas apresentações, alguém pedia para que ela tocasse essa canção. A letra da música foi fruto de uma pesquisa, onde ela tomou nota da letra e teve o cuidado de apresentar assim como a ouviu pela primeira vez. Na época de 50, Inezita estava à frente de seu tempo, sendo uma mulher cantando moda de viola.
Inezita nasceu numa família abastada, apaixonada pela cultura e principalmente pela música brasileira. Apesar disso, o gosto pela viola não foi aprovado pela família. Assim como as moças de sua época, ela teve aulas de piano, mas sua paixão era mesmo a viola, que começou a tocar com 7 anos. Nas férias, ela dizia que ia ver a nova vaca que havia chegado, mas a verdade era que ela corria para se meter nas rodas de viola caipira, entoadas pelos colonos caipiras. Mesmo tendo essa coragem, até mesmo os violeiros não deixavam que ela tocasse, dizendo que viola não era coisa para mulher. Inezita então teve que insistir muito, até que deixasse que eles enxergassem seu talento primoroso com o instrumento. Ela foi aluna da primeira turma de biblioteconomia na USP e se graduou em 1947, antes de se tornar uma cantora profissional. Em 1947, ela se casou com o advogado cearense Adolfo Cabral Barroso, com quem teve uma filha chamada Marta e ficou casada com ele durante 9 anos.

Leitora do grandioso Mário de Andrade, no ano de 1955 ela grava “Viola Quebrada”, uma modinha do século XIX harmonizada por ele também.
Seu contato com o cinema foi por meio do cunhado, Maurício Barroso, que era ator. A família do ex-marido era completamente inserida na arte. Inezita conta que eles conversavam sobre cinema, música e filmes em quase todas as refeições. Ela participou do filme Angela (1950), O Craque (1953), Destino em Apuros (1953), É Proibido Beijar (1954) e Carnaval em Lá Menor (1955). Ganha o prêmio de melhor atriz pela atuação em Mulher de Verdade (1953) e o troféu Roquette-Pinto de melhor cantora popular brasileira em 1954. Até os anos 60 grava uns dos seus maiores sucessos: “Engenho Novo” (coco), “Lampião de Gás” (valsinha) e “Luar do Sertão” (toada). Em 1997, recebeu o prêmio Sharp de melhor cantora regional.
Em 62, grava o EP “Clássicas da Música Caipira”, que conta com um segundo volume lançado em 72.
Em 75 ela grava o EP “Inezita em Todos os Cantos”, que contém canções recolhidas dos estados do RJ, MG, MT, PE e BA. O LP “Inezita, a Incomparável” foi lançado em 85, com músicas selecionadas pelo público. Nos anos de 78 e 80, ela grava dois volumes da coletânea "Jóia da Música Sertaneja”.
Inezita viajou pelo Brasil junto do Projeto Pixinguinha, da Funarte, que é um evento popular dedicado à música popular brasileira. Ela lecionou folclore na Universidade de Mogi das Cruzes. Em 93 gravou o CD “Alma Brasileira”. Junto de Roberto Corrêa, um estimado violeiro, ela grava o CD “Caipira de Fato”. Em 2014, ela foi eleita para a Academia de Letras, ocupando a cadeira da folclorista Ruth Guimarães, que faleceu em maio do mesmo ano.
Por 35 anos ela apresentou o programa “Viola, minha Viola” (1980-2015), dedicado a música caipira e transmitido pela TV Cultura. Após sua morte, a cantora Adriana Farias apresentou o programa, após um período de reprises de episódios do programa com Inezita. O curto período de apresentação feito por Adriana, foi montado para homenagear Inezita e o programa. Atualmente, os episódios são (re)apresentados no domingo de manhã. A emissora reconhece o legado de Inezita e a importância do programa para a valorização e divulgação da cultura regional e caipira. “Viola, minha Viola” é um dos programas de auditório mais longos da TV brasileira.

Espero que vocês tenham gostado da recomendação de hoje! Torço para que ela tenha despertado boas lembranças em quem costumava assistir o programa. A música caipira e regional é de grande importância para mim, é uma chama que jamais deve ser extinta, pois conta a história de um povo.
Até a próxima!
Jennifer.
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