Fala galera! Tudo bom? Olha quem veio trazer mais uma recomendação para vocês. Isso mesmo, eu. Quero pedir desculpas pelo atraso desse post e do anterior. Final de semestre é sempre um inferno por aqui.
A Mel pediu pra trocar, então quem vai fechar o ano e o mês com chave de ouro é ela. Agora vamos logo "aos finalmentes".
A recomendação da vez gira em torno do metal brasileiro (sim, eu acho que não me canso de falar sobre metal por aqui). Essa banda em especial, carrega em si a história e melodia do nosso povo, com muita beleza e brutalidade. O Folk Metal é um estilo que mescla algum estilo de metal (heavy, black, thrash, etc) com alguma espécie de música raiz, que nesse caso é a música indígena. As letras são inspiradas em lendas, mitos e histórias indígenas, fazendo uso da linguagem e instrumento desse povo. É uma honra e uma dádiva ter uma banda como essa em solo brasileiro. Eles têm uma qualidade absurda e seu trabalho é necessário para valorização dos povos nativos. Um povo que não conhece suas raízes, desconhece a si mesmo.
E se você pensou em Arandu Arakuaa, pensou certo!

A banda de metal indígena nasceu em abril de 2008 (seu nome significa “sabedoria do cosmos"), com o Zândhio Huku, que é responsável pela composição, guitarra, vocais, instrumentos indígenas, viola caipira e teclados. O vocalista foi criado em Tocantins, perto de aldeias indígenas, sendo o Arandu um projeto pessoal que tomou forma em Brasília, onde ele começou a escrever as letras. Encontrar os integrantes foi um processo um pouco demorado, que começou em 2008 e se fixou em 2011. A ideia foi misturar o metal, que é mais agressivo, com a música indígena que é mais melódica, com uma sonoridade bem brasileira. Os idiomas indígenas utilizados nas canções são: Tupi, Xerente e Xavante. Os vídeos contam com legenda e tradução!
A graça da banda é ser totalmente original cantando em línguas indígenas e sair do padrão que o Heavy Metal está acostumado a ver. As pinturas utilizadas por cada integrante tem um conceito, que depende do significado cosmológico de cada etnia.
Os integrantes atuais da banda são: Zândhio Huku, Andressa Barbosa (vocais e baixo), Guilherme Cezario (guitarra, vocais de apoio) e João Mancha (bateria e percussão). A banda já se apresentou no THORHAMMERFEST em São Paulo, que é um grande (e incrível) festival anual de viking/pagan/folk metal.
O EP Arandu Arakuaa foi lançado em 2012, e contém 4 músicas. As letras estão em tupi antigo e fazem um bom par com os vocais rasgados e agressivos da Nájila (ex-integrante). Minha música favorita desse EP é "Tupinambá". Infelizmente, eu não consegui encontrar a letra nem a tradução. Caso eu encontre, trago aqui pra vocês.
Kó Yby Oré é um belo álbum (um de meus favoritos) e foi lançado em 2013. Eu facilmente colocaria todas as faixas em algum jogo ou série com temática indígena. Tanto que, Araní, que é um jogo brasileiro com essa temática, foi bem hypado em 2017 e ganhou um novo teaser em novembro. E trilha sonora vai ser carregada pelo Arandu Arakuaa! Dizem as boas vozes que o jogo será multiplaforma, mas ainda não há data de lançamento. Araní, esperamos ansiosamente por você.
O avanço da banda entre o EP e esse álbum é algo perceptível. A primeira vez que tive contato com a banda foi pela música Aruañas, e eu subi aos céus. Muito se comentava sobre a falta de novidade no metal, tanto brasileiro quanto estrangeiro, e me deparar com essa faixa fez minhas esperanças (e de outros) subirem muito. O que mais me chama atenção é a viola de Zândhio e a voz da Nájila que consegue sair de um vocal brutal a algo suave. A harmonia dessa banda é algo sensacional!
“Os índios moravam dentro do rio / Abá o-ikó 'y pupé
Na aldeia dentro rio / Taba suí 'y pupé
O menino fez o caminho / Kunumim o-monhang r-apé
O menino fez o caminho / Kunumim o-monhang r-apé
Para a terra verde / Yby oby supé
Para o buraco das araras / Arara kûara-pe
O menino fez o caminho / Kunumim o-monhang r-apé
O menino fez o caminho / Kunumim o-monhang r-apé
Para a terra verde / Yby oby supé
Para o buraco das araras / Arara kûara-pe
Venham homens, venham homens, venham homens, dancem, dancem, dancem para aruanãs / E-îori abá, e-îori abá , e-îori abá, poraseî , poraseî , poraseî aruanãs.”
Outra faixa desse álbum que é uma verdadeira divindade é Gûyrá. Uma coisa que esqueci de citar é que a voz de Zândhio soa como um pajé, o que trás muita beleza e nos aproxima bastante da realidade das letras.
“Xe r-oryb, nh~ur r-upi a-guatá / Eu sou feliz, ando pelos campos
A-î-potar ma'~e ybaka resé / Quero que olhes para o céu
Xe guainumbi, xe taperá un / Sou o beija flor, sou a andorinha preta
Îandé îa-bebé eté / Nós voamos muito
Xe arara oby, xe güiranheenguentá / Sou a arara azul, sou o pássaro cantador
Îandé îa-nhe'engar eté / Nós cantamos muito
O-'ar pytuna-ne / Cairá a noite
O-'ar pytuna-ne / Cairá a noite”
O próximo álbum é de 2015 e se chama “Wdê Nnãkrda”. A música de abertura é Watô Akwê, que não tem nada muito “metaleiro”. A voz de Zhândio nos presenteia durante toda a canção. Povo Vermelho é a canção que fecha o álbum e é cantada em português. A música fala da fúria dos espíritos com o descaso humano com a Terra, e principalmente, fala sobre a luta e resistência indígena que continua atual.
“O povo vermelho resiste, o povo vermelho resiste
Enquanto houver terra, enquanto houver mata
Depois tudo ficou diferente
Os espíritos chamados de demônios
Cada dia menos árvores, animais, histórias, cantoria”
“Mrã Waze” foi lançado em 2018. Quem integra o vocal feminino aqui é a Lis Carvalho, que foi uma escolha incrível. A relação entre indígena e natureza é bem ressaltada nesse álbum. A adição de mais uma guitarra no repertório deixou esse álbum mais pesado que o anterior. Aqui, a junção dos instrumentos musicais indígenas e as distorções das guitarras foi muito bem explorada. Não é à toa que esse é meu segundo álbum favorito da banda.
Îasy é uma das melhores faixas. O trabalho visual no clipe é sensacional ao extremo. A canção fala sobre a medicina da lua.
“Xe raûsubar îepé, xe sy - tem piedade de mim, minha mãe
Xe r-arõ-ngatu îepé, îasy gué – guarda-me bem, ó lua
Aîkotebẽ nde resé, xe sy - eu preciso de ti, minha mãe
Aîkuab, îasy gué, oroaûsubeté! – obrigado, ó lua, te amo muito”
Neste ano, para nossa alegria, a banda lançou quatro clipes: Am’mrã (Estrela cadente), Kaburéûasu (Coruja), Waptokwa Zawré (Grande Espírito) e Ybytu (Vento).
É incrível ver a banda crescer em conteúdo, harmonia e público. Arandu Arakuaa merece a atenção brasileira e do mundo. A forma como eles conduzem a banda é sensacional. Essa é uma das melhores bandas atuais. Originalidade e muita ancestralidade. Vale a pena conhecer todas as músicas. Espero do fundo do meu coração que a banda cresça mais e mais! Foi uma honra mostrar um pouquinho dessa obra de arte que rompe com a cena comum do metal, que incendeia corações e fala da nossa história, que na maioria das vezes é negligenciada e esquecida. O povo vermelho resiste firme e forte! Toda força para banda e para os indígenas de nosso país.
P.S.: Tem uma curiosidade que deixei de falar: o instrumento que Zândhio usa foi idealizado por ele. É uma guitarra viola: tem dois braços, um com som de guitarra e outro braço com som de viola. Incrível!

Até a próxima!
Jennifer.
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