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Élysée et Hadès

Foto do escritor: Jenny SouzaJenny Souza

Fala galera! Tudo bem? Espero que sim. Estou aqui para mais uma recomendação. A banda foi indicada pelo Keven, e o subgênero de metal do qual ela pertence me foi apresentado pelo Giovane. Obrigada Keven e Gi pelas grandes e únicas recomendações que vocês me fazem!

A recomendação de hoje gira em torno de uma mistura de black metal e shoegaze. Vocês já tiveram um vislumbre sobre shoegaze no post sobre Terno Rei (se não leu, ainda dá tempo de ler!), então vou trazer uma palhinha sobre Black Metal. É comum que o primeiro pensamento sobre essa ala do metal envolva Varg Vikernes e Euronymous, ou então a sangrenta história do Dead. Quem sabe um dia eu as traga para cá.


 


O Black Metal é um gênero extremo do metal. Guitarras distorcidas, guturais e vocais rasgados e o uso de blast beat na bateria são a marca desse gênero. Originalmente, as canções costumam ser cruas, agressivas e sombrias, trazendo temas como satanismo e paganismo em suas letras. Os integrantes fazem uso de corpse paint e pseudônimos costumeiramente. A cena norueguesa é a mais comum, e serviu de inspiração para outras bandas. Outra marca comum é a “sub-produção” para mostrar esse lado anti mainstream. Como outros gêneros do metal, o Black Metal também tem seus subgêneros, como por exemplo o Black Metal Sinfônico e o Blackgaze (a recomendação de hoje perambula por essas terras).

O Blackgaze nasceu pelos anos 2000, com a banda que vou recomendar hoje (mas ainda sim encontramos Blackgaze em bandas dos anos 90, como Agalloch). Sendo uma fusão entre black metal, shoegaze e post-rock. Os riffs e vocais são comuns de bandas norueguesas, enquanto os vocais ecoantes e acordes noises vem do shoegaze, dando uma atmosfera melancólica.(tendo como espelhamento bandas como My Blood Valentine). É uma mistura um tanto curiosa. O Black Metal tem uma pegada profana, arrastada, enquanto o shoegaze parece ser algo mais suspenso; é como um encontro entre o Hades e o Elísio, no mesmo lugar.

É comum que algumas bandas desse subgênero abandonem o Black Metal com o passar do tempo, seguindo de forma mais “pesada” os outros dois gêneros que as compunham.





A banda de hoje é Alcest, uma das mais conhecidas (e principais) desse subgênero. Foi formada como um projeto solo de Neige (vocal, guitarra rítmica/acústica e bateria) na França dos anos 2000. Logo a banda se tornou um trio de Black Metal, com Argoth no baixo e Aegnor (hoje conhecido como Famine, e trabalhou com Neige no Peste Noire) na outra guitarra. O trio lançou uma demo com quatro faixas, que levou o nome de “Tristesse Hivernale”, mas após o lançamento, a banda se desfez e se tornou de um homem só (típico do Black Metal). Essa demo tem tudo que o Black Metal (e eu) gosta. O som cru, vocais rasgados e muito “chiado” conferem o selo “Hail Hell” a essa demo.

“La Forêt de Cristal" é minha música favorita dessa demo. Existe um abismo enorme entre a qualidade do som e a pegada musical entre Tristesse Hivernale (que é típico do Black Metal) e as demais produções. Mas isso não faz que a primeira demo seja ruim, pelo contrário, ela é muito boa.


“Ao anoitecer

Um vento gelado varre esses países

O inverno tomou conta de almas atormentadas

Geada será desastroso para nossa mortalha”





Com a saída dos outros integrantes, Neige deu uma cara mais pessoal para o Alcest. “Le Secret” foi lançado em 2005 (e tem uma versão de 2011).Mágico eu diria. Os riffs, blast beat e a voz de Neige causam uma certa suspensão meio surrreal. Esse EP é tido como a estrutura para o restante de álbuns do Alcest. Aqui, o vocal canaliza suas experiências esotéricas de sua infância. Com apenas 14:35 de duração, Le Secret consegue prender a atenção do ouvinte. Vale lembrar que essa atmosfera meio relaxante é pouco comum no Black Metal. A melhor parte é o final, onde Neige sussurra, como quem conta segredos.


“Às vezes, as árvores esboçam um curioso ballet

Imitam meu pequeno corpo pelo vento

E murmuram algumas palavras familiares

Põe sobre sua vida, um olhar qualquer

E te fazem engolir seus perfumes exalados

De um jardim cujo outrora você sempre quis compreender o segredo

Você ouvirá alegres moças magras

Em um rio brilhante e perolado”





“Souvenirs D'un Autre Monde” é o primeiro álbum de estúdio da banda e foi lançado em 2007, e assim como o anterior, possui uma crítica positiva. É um trabalho bem conceitual, uma espécie de nostalgia das visões e sonhos da infância de Neige, trazendo ao álbum um efeito etéreo. O vocal diz que essas experiências mudaram sua forma de viver. “Les Iris” é a terceira faixa do álbum, com um clima mais arrastado mas ainda atmosférico, a canção rememora as raízes do Black Metal. Os vocais de Neige soam como mantras. “Ciel Errant” se inicia com um violão melódico, trazendo toda uma melancolia.


“Les Iris”

Mais um pouco de sangue varas sua pele para o pavimento

E eu estou com medo, e eu estou com frio

É a minha morte, é a sua morte que eu vejo

Esmagaram sua cabeça e seu coração

Eles roubaram tudo de você, pobre fantasma esmagado

Eu quero chorar; Mas eu não te amo






“Ciel Errant”

Ao abrir os olhos, a manhã

Imediatamente, me preenche de dor

Mas, às vezes, eu não sinto nada

Ou apenas o nítido sentimento

De não ser daqui...

E então eu amo contemplar o céu,

Ter a impressão de voar

Entre as nuvens que passam e então se apagam

No azul de um mar infinito.






"Écailles de Lune" é o segundo EP da banda. Lançado em 2010, foi bem recebido por fãs e pela mídia. As canções mais comentadas desse EP são "Percées de Lumière" e "Sur L'Océan Couleur de Fer". Esse EP parece juntar todas as peças que compõem o Alcest: melodias celestiais, ruídos sufocantes e melodias arqueadas. Tudo num só disco. A canção “Écailles de Lune (Part II)”, começa suave e se rompe numa onda brutal, dissolvendo-se em uma linha medonha que se constrói e se destrói. A divisão entre atormentado e lindo se fundem aqui.


"Como uma alma suspensa

Eu desejo sem medo

Desaparecer sob as ondas

Ouvir vindo das profundezas

Seu lamento encantado

Eles me chamaram de seu reino

De madrepérola e conchas água-marinha

Para me levar longe de minha família

Em um mundo que me é estranho"





Em 2012, a banda lançou o álbum “Les Voyages de l'Âme”, que deu mais conhecimento do Alcest ao mundo. Com uma pegada bem mais atmosférica (mas sem deixar de ter um leve toque de Black Metal), o álbum é tido como um dos melhores da banda. Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles” tem 8:50 de duração, tendo com o shoegaze sua base e alguns guturais que marcam a mudança de clima na faixa.


"Eu sempre vivi aqui, ainda que

Como um estranho errante

Nesta terra, solitário,

Em perpétuo desapego,

Eu ouço em mim o chamado de um outro universo

Que ressoa amargamente"





“Shelter” foi o disco lançado em 2014 pela banda. Foi aqui que Neige afirmou o distanciamento do Black Metal (o que talvez tenha feito com que a banda perdesse seus fãs mais tr00). A banda se aprofundou no shoegaze, e as letras desse álbum são dedicadas e inspiradas no mar, já que Neige passava horas admirando sua beleza. Apesar do afastamento do metal, as músicas continuaram com sua beleza singular. “Délivrance” é a canção que fecha o álbum, trazendo um clima meio melancólico de despedida.


"Deitado na areia eu ouço

O mar distante cantando

E olhar para as nuvens solitárias

Desaparecendo acima de mim

Eu queria que minha mente pudesse se juntar a eles

Eu queria que minha mente pudesse vagar livre"





O disco com mais sucesso e que marca o retorno da banda ao blackgaze é “Kodama”, de 2016. O nome do álbum faz referência a um espírito japonês que vive nas árvores. O álbum recebeu críticas positivas e é o reflexo da admiração de Neige pelo Japão. “Oiseaux de Proie” foi a faixa de maior sucesso.


"Corpos etéreos

Vestidos em serpentina

São criados por mãos

Com garras afiadas

Monstros indigestos rapinam

Com uma raiva primitiva

Espreitando por entre as árvores

Que respiram fundo

A terra machucada

Doente por dentro

Tremendo e desmoronando

Em uma respiração vulcânica

As aves de rapina

Um exército de crianças ferozes

Prepara-se para vingar

O sofrimento de sua mãe"





O álbum mais recente foi lançado em 2019, trazendo novidades sonoras, como o grande uso de sintetizadores. “Spiritual Instinct” parece ter a mesma pegada que o álbum anterior. O clipe da música Sapphire foi o primeiro onde a banda aparece atuando com instrumentos.






Essa foi a recomendação de hoje! Para fãs de shoegaze e black metal, essa sugestão vai ser uma mão na roda. É sempre bom conhecer novas bandas que fogem da cena comum. Um ponto que esqueci de tocar é que as canções são cantadas em francês e que quem acompanha Neige em seus trabalhos atualmente é o Winterhalter. Até a próxima!




- Jennifer



 
 
 

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